A minha vida está uma loucura, e é por isso que tenho escrito pouco, muito pouco, por aqui. Mas hoje quero dividir meu momento.
Minha esposa está grávida, com um barrigão que completa, hoje, 31 semanas. Para buscar uma maior qualidade de vida para essa nossa nova fase, decidimos nos mudar para o interior. Então estamos reformando uma casa, que foi a casa em que morei durante a minha infância e para onde nos mudaremos no 2º semestre.
Gravidez, mudança, reforma… Se isso não bastasse, estou no epicentro da minha vida profissional. Tem muita evoluindo, mas ainda muita incerteza. Com o nascimento do meu filho previsto para meados de maio, me sinto na reta final de uma corrida - como se eu ainda precisasse dar vários checks até lá. Um pouco disso é verdade, mas um pouco é exagero. Alguns checks podem ficar para depois… mas não basta concluir isso com a cabeça para eliminar o senso de urgência do peito.
Nessas horas, mais do que indo e vindo, me sinto sendo levado e puxado. A cada atualização do Gmail ou abertura do WhatsApp, sou atingido por alguma coisa que demanda alguma decisão. E eu vou indo e decidindo, indo e decidindo, indo e decidindo, num fluxo de dança com a vida. Sim, estou dançando com a vida! - mas é ela quem conduz, não eu.
Eu comecei a pensar assim só depois dos 30. Precisei desse tempo para perceber a minha própria falibilidade. Antes, eu diria “Nada disso, quem conduz essa dança sou eu”. Acontece que, quando somos jovens demais, ou bem-sucedidos demais, temos a ingênua impressão de que o futuro que desejamos não passa de uma consequência dependente de apenas uma causa: nós mesmos! Que grande bobagem. Além de equivocada, é essa ideia é imatura e arrogante.
Antes dessa gravidez, tivemos duas perdas gestacionais. Nenhuma delas foi por culpa nossa. Não fizemos nada de errado. Foi assim porque foi assim. Agora, a cada ecografia, eu cruzo os dedos e espero a roleta russa do universo me presentear com a saúde do meu filho, a respeito da qual eu tenho pouca interferência.
No relacionamento e no trabalho, acontece o mesmo. Há muita sorte (ou azar) envolvidos, apesar da nossa tendência a supervalorizar a nossa própria atuação - nos vangloriando excessivamente nos sucessos e nos rebaixando excessivamente nos fracassos.
Admitir isso não é o mesmo que admitir impotência. Afinal, é claro que nós influenciamos nessa dança! É claro que somos uma variável que define qual será o futuro que receberemos logo ali na frente! Mas não somos a variável, somos uma variável. Influenciamos, não definimos.
Não definimos, mas influenciamos. Ser conduzido, e é isso que precisa ser percebido, não um mero papel passivo. Exige ouvidos atentos à música, destreza nos pés, sutileza para prestar atenção no seu par e coragem para influenciar a dança. A vida gosta mais de dançar com quem sabe dançar com ela.
Então nunca deixe de se orgulhar de suas conquistas. Mas nunca se esqueça de agradecer por elas. “Obrigado pela dança, Sr. Condutor”, seja quem for ele para você - Deus, Destino, Vida ou Acaso - dá no mesmo.